UMA BREVE INTRODUÇÃO A VIDA E OBRA DE CARLOS MARIA TEIXEIRA

Dezembro 9, 2023 3 Por admin

……. (prévia do livro)

1. Introdução

Quando Carlos partiu de Lisboa no final do ano de 1861, a bordo do brigue Ligeiro 2º, não imaginava o que ia encontrar pela frente. Só sabia que queria vir para o Brasil e nada mais. Até parecia que estava fugindo de alguma coisa ou de alguém… Queria explorar novos horizontes, ansiava por novidades nas terras do Brasil. Em janeiro do ano seguinte, o jovem português já estava desembarcando no cais de Belém, no Pará, seguindo depois para Óbidos, onde começaria sua vida como caixeiro viajante, o destino da maioria dos imigrantes europeus e nordestinos arribados para as grandes barrancas do rio Amazonas. Carlos teve atuação destacada na região do rio Trombetas no início da década de 1860, quando o atual município de Oriximiná ainda era território de Óbidos, no oeste do Pará. De lá pra cá só aumentam as menções ao nome desse jovem comerciante português que na época do regime imperial muito contribuiu para o desenvolvimento econômico da região, em suas várias atividades comerciais desde o entreposto de lenha (combustível para os navios a vapor), a exploração do fabrico da castanha do Pará, do estaleiro de fabricação de igarités, venda de pranchas de itaúba, comércio de estivas, padarias, dentre outras como criação de gado.

Os feitos e memórias do português Carlos abarca também extensa prole que se expandiu nas cidades da região, revelando sua importância para denominar a principal rua da cidade de Oriximiná a desde sempre Carlos Maria Teixeira. Entretanto, quanto mais avançava a pesquisa e entrevistas mais ficava claro que ainda mais se necessita pesquisar com detalhes sobre suas origens e realizações para que o nome de Carlos Maria Teixeira ocupe o real destaque que merece na pátria dos filhos de Oriximiná.

A ideia da elaboração deste livro se justifica no sentido de compartilhar o que já se sabe sobre a origem de Carlos, instigar a insatisfação intelectual nos estudiosos trombetinos e possibilitar o surgimento de ações para estimular o estudo mais aprofundado sobre a vida e obra de Carlos Maria Teixeira, com mais pesquisas e validações das inúmeras memórias factuais, seja na oralidade, seja nos registros históricos que ainda hoje habitam o imaginário dos oriximinaenses, descendentes ou integrantes da comunidade local.

Neste particular, estamos com Luc Ferry, filósofo francês, para quem é preciso agir “tomando a psicanálise como modelo, ela (a História) nos promete que é dominando cada vez mais nosso passado e praticando a autorreflexão em altas doses que vamos compreender melhor nosso presente e melhor orientar nosso futuro”.

Que belo futuro nos aguarda ao adentrarmos nessa breve introdução à vida e obra de Carlos Maria Teixeira e poder revivificar as memórias e causos do nosso imigrante primeiro nas terras do Uaracis.

Nas memórias, a oralidade não deixa vínculo gravado a não ser na psique de cada um de nós. Até mesmo a memória popular é reprodução da visão de mundo do falante, daquele que usa seu tempo a mais para reproduzir histórias ouvidas de outras pessoas narrando um fato ou comentando conversas ouvidas em família, ou serões hoje em dia tão escassos diante da modernidade.

E ao repetir a cisma diária, o ser humano delimita sua espacialidade, sua temporalidade, seu modus vivendi. São essas reflexões que se busca por objeto com o lançamento desta obra, permitir o surgimento das críticas, dos comentários que antecedem as memórias e oralidades, ainda que forem para contestar afirmações aqui contindas ou acrescentar mais obras e assuntos sobre o Carlos nestas páginas.

Façamos como  Ortega & Gasset, filósofo espanhol, que dizia que “o mundo sou eu e minhas circunstâncias… o mundo começa a partir de mim…”;  ou, da minha aldeia, cantada em versos como o chileno Pablo Neruda, ou em prosa como Machado de Assis, ou ainda em rabiscos originários como nosso Guruxy,[1] que afirmou: “Foi um esforço de 27 anos e 11 meses de trabalho, tempo em que estivemos à testa da Agência Municipal… do IBGE, em Oriximiná. Desde então vínhamos concatenando dados, entretanto, sem pensar em escrever um livro… com certeza haverá alguém queocriticará,o que não afetará o orgulho de sermos os primeiros filhos dessa linda terra que se chama Oriximiná, abençoada por Deus e por Santo Antonio, seu padroeiro, que levará ao conhecimento de seus filhos e de outros brasileiros o que é esta cidade que há 45 anos teve a sua emancipação política e, agora, é uma das mais desenvolvidas dentre as suas congêneres na região… desejamos que outro oriximinaense, nosso descendente ou não, mas com igual ou maior amor, procure, mais tarde melhorar o nosso trabalho. A semente está lançada.”

            2. A Chegada dos primeiros comerciantes na chapada do Uaracis

No dia 29 de maio de 1862, Carlos foi a Belém, e chegando ao porto, se dirigiu ao Grêmio Literário Português, agremiação criada pelos patrícios com a finalidade básica de dar suporte aos imigrantes lusitanos que vinham de Portugal na busca pela exploração das terras do Pará. A sede do Grêmio na rua Manoel Barata, ainda está no mesmo local e ainda hoje abriga um acervo memorável de mais de trinta mil livros além de registros históricos indispensáveis para confirmar as chegadas e partidas dos portugueses nos portos do Pará.

Está lá, na ficha nº 1.286, preenchida de próprio punho por Carlos Maria Teixeira, aos 23 anos de idade, o registro da sua chegada ao Pará no dia 30 de janeiro de 1862, fixando residência na cidade de Óbidos, Pará.

Na segunda metade do século XIX a região do baixo Trombetas passa por uma transformação econômica que vai definir o surgimento de várias comunidades importantes no seu curso em razão de ser corredor natural entre os municípios de Óbidos e Faro, os dois únicos naquela época que ficavam no que se diz hoje a Calha Norte do rio Amazonas, no Oeste do Pará.

(publicado em 8.12.2023; continua na próxima semana…)


[1] Anthymio Wanzeler Figueira, in Apresentação do Livro Oriximiná,  em 1994.