Arquivo mensal: Junho 2023

Sobre o pensamento alargado na ACEOR e no BANCREVEA

Por oposição ao espírito “limitado “, o pensamento alargado poderia ser definido, num primeiro momento, como aquele que consegue arrancar-se de sí para se “colocar no lugar de outrem “, não somente para melhor compreendê-lo , mas também para tentar, num momento em que se volta para sí, olhar seus próprios juízos do ponto de vista que poderia ser o dos outros. Luc Ferry, in Aprender a Viver, pág 281, Objetiva, 2007,RJ.

Seria utopia esperar 38 anos para colher os primeiros frutos de tâmaras nas barrancas do rio Trombetas, mas ainda ressoam no tempo as palavras profetizadas naquele dia 15 de junho de 1985, no salão nobre da Sociedade Recreativa Bancrévea, quando Helcio Amaral e sua comitiva vieram de Santarém para prestigiar, juntamente com os demais associados, a posse da primeira diretoria da Associação Comercial de Oriximiná, a ACO.

O confrade do Tapajós deitou palavras sobre a capacidade associativa dos seres humanos que nos momentos de perigo, ao invés de separarem-se, buscam quase sempre a união para manter a sobrevivência da espécie, tema tão presente quanto necessário para estes novos tempos mudancistas em curso na minha terra trombetina.

O filósofo francês Luc Ferry nos ajuda a entender como agir diante de uma situação aparentemente sem saída, onde o espírito limitado permanece envisgado em sua comunidade de origem a ponto de julgar que ela é a única possível ou, pelo menos, a única boa e legítima.  Não colhe bons frutos aquele que semeia ventos, já ensinavam os antigos patriarcas, da mesma forma que diante da dificuldade, o espírito alargado consegue, assumindo tanto quanto possível o ponto de vista de outrem, contemplar o mundo como espectador interessado e benevolente. Aceitando descentrar sua perspectiva inicial e arrancar-se ao círculo do egocentrismo, ele pode penetrar nos costumes e nos valores diferentes dos seus; em seguida, ao se voltar para si mesmo, tomar consciência de si de modo distanciado, menos dogmático, e com isso enriquecer suas próprias ideias.

Há 38 anos dizíamos das consequências da liberdade e perfectibilidade dos humanos em evoluir na sociedade diante dos desafios enfrentados pelo Estado, que torna o individuo um ser contribuinte de impostos (lembrem-se da reunião no Bancrévea contra a saga de um agente da Fazenda Estadual), noutra tônica um paciente nos hospitais e ainda em outra um cidadão do mundo.

 Em todos os cenários, haverá sempre a liberdade e a capacidade de agir diferente dos animais em busca da perfeição da vida em sociedade, o que resolvemos chamar de nossa historicidade, criando entidades impessoais para granjear recursos logísticos, monetários, capital social, o surgimento quase sempre de novos cenários, novas possibilidades culturais, enfim, tecnologias que nos permitem uma vida mais saudável em todos os quadrantes.

Com o passar dos anos a ACO se tornou Associação Comercial e Empresarial de Oriximiná, incorporando o aspecto empresarial na sua denominação para abrigar no quadro associativo toda a gama de inteligência modificadora de recursos com vistas à agregação de valor a serviços e produtos, além de uma das mais antigas atividades do ser humano, o comércio.

Nessa toada, gostaria de resgatar em cada um dos associados da ACEOR a ideia primeira do processo associativo que os faz se mover, diariamente em cada um dos seus locais de negócios, a energia da força empresarial de Oriximiná no sentido de resgatar o palco da natividade para transformar aquele espaço em um Centro de Convenções da Cidade, buscando na força primeira dos associados a fonte legítima da legalidade numa primeira parceria público privada, uma vez que assim como a municipalidade, muitos de nós, somos parte também do quadro originário da Sociedade Recreativa Bancrévea.

Nosso presidente Brunoro Giordano certamente pode contar com nosso apoio para esse mais novo mister sugerido nestes 38 anos de ACEOR! 

João Bosco Almeida, 1º presidente da ACO

Tio Dô, ainda lembro…

No dia 19 de janeiro de 2020 finalizei com esse parágrafo a singela homenagem que fazia pelo natalício do meu irmão Domingos Almeida, vítima de uma brutalidade no trânsito da cidade que lhe ceifou a vida: “Assim tentando resumir os feitos dos teus anos na terra acabo por admitir a imensidão das tuas ideias e vontades de viver. Partistes cedo irmão, mas nunca tardarão os tempos e espaço para registrar o ciclos da brilhante vida que fizestes. Hoje, podes contemplar os teus do alto morro da Saudade, ao lado dos nossos antepassados, debaixo da mangueira eterna dos fundadores da cidade…”

Ontem, 7/6/23, registramos o quarto ano da sua passagem nestas paragens terrenas e desde lá estou encafifado com lembranças das nossas conversas sobre as expectativas do que pode acontecer com a gente no futuro, de repente ou de forma mais planejada.

Ainda lembro sobre como seus amigos e parentes lhe alcunhavam nos últimos anos na forma reduzida e carinhosa como está no título desta pequena crônica, para em seguida relatar mais uma de suas realizações em prol de um feito singular ou inusitado que só tio Dô podia fazer ou já ter realizado, como ter participado pilotando uma lancha levando a polícia na busca e apreensão de um notório agafanhador de gado na região do paraná de Dona Rosa, no vizinho Juruti; noutra memória vem maravilhas dos causos nas viagens para sul do Brasil e Argentina, com sua companheira Raquel, na boleia dos caminhões modernos que gostavas de dirigir.

Tio Dô, melhor Dominguinho como te chamavam os irmãos, posso dizer que já se tornou hábito meu lhe visitar todas as vezes que retorno a nossa cidade, talvez para tentar ouvir bem de perto o que você ainda não me contou em detalhes, ou uma história engraçada que tenhas esquecido de me falar ou ainda as novidades desse novo mundo que habitas desde aquele fatídico 7 de junho.

Como já percebestes daí de cima, nossa cidade tem passado por mudanças radicais que lembram muito nossas conversas sobre o que era preciso fazer para Oriximiná ser referência na Calha Norte.

Ainda lembro de prometer a você que passaria o resto dos meus dias buscando ser feliz e honrando nossa família, especialmente a memória dos nossos antepassados, como nossos pais continuam fazendo até hoje. Fique em paz meu irmão e até o próximo momento de lembranças póstumas.