Pão e Votos: uma mistura explosiva!

A superdosagem de pão distribuído no circo das últimas eleições não correspondeu ao resultado magro dos votos colhidos, ainda que bastante para funcionar como nitroglicerina na massa social expandida na ignição da bomba programada para os próximos anos. É residual e flui na cidade comentários que não aceitam os resultados presumivelmente esperados, porém nunca trabalhados no binômio que virou moda política no país: fome e desemprego.

        Desemprego e fome ainda serão o material plástico desse artefato humano que insiste em não manter calados os inúmeros indivíduos que procuram Oriximiná e arredores para saciar e aplacar tais necessidades, reconhecidas por lideranças empresariais que não conseguem sensibilizar os políticos na busca da ação planificadora com a respectiva destinação de verbas públicas para investimentos inadiáveis.

        No outro lado do rio, a trombeta vibra diariamente para sinalizar o perigo da distribuição de pão sem vinho; da festa sem combustível; das gentes sem ideologia, sem motivação, sem futuro! Na banda de cá, margeiam os pássaros políticos palreando a canção ufanista do sagrado bom destino: não há falar em desgraça enquanto houver bauxita! E haja royallties!!!

        Fechando o zoom da lente social, a maior empresa do município não bateia o associativismo como pérola rara de seu garimpo, nem como semi-preciosa na lavra diária. Ainda dormitam nas gavetas da instituição promessas de filiação e ajuda logística para o teimoso empresariado local. No caminho para as duas décadas a cada ano se renovam as esperanças de desarme dessa bombástica situação de enclave econômico no meio da mata de castanhais. Na urbe não se ouvem os gritos animalescos das máquinas, nem os berros maquiavélicos dos animais;  muito menos as reivindicações ribeirinhas dos expulsos das terras e arredores das minas.

        Desses só se ouviu o brado na reunião social do embate pelo mandamento constitucional dos estudos ambientais tão bons e excelentes para a mineradora que ela mesma planeja, faz e fiscaliza, dando uma banana verde aos ambientalistas e amarela aos acionistas. Não perguntem a ninguém o resultado da ação minimizadora dos impactos nas gentes do Sapucuá, balão de ensaio de tentativas agrárias distorcidas, berço fermentador daquela litigiosidade contida que os juristas expressam para uma região potencialmente explosiva.  Isso é a interação capital x trabalho no início do terceiro milênio, ou como já hodiernamente aceito, o choque do real na era Lula.

        Diógenesmente procurada com lanterna nos vários discursos proferidos na última distribuição do pão eleitoral não se viu uma letra sobre a quebra do isolamento bi-lateral de Porto Trombetas-Oriximiná, nem promessas de integração distrito-sede, ficando eles mesmos mais próximos as Minas Gerais com saída aberta pelos céus amazônicos. Pelo rio agora minado de “pedaços de ferro de bubuia”, como diria o velho Balduíno, as gentes se bandeiam noite à dentro, desinformados, argolados e esfomeados como são os eleitores do “Fome Zero”. Qual o barco no escuro não sabem se vão chegar em porto seguro, na praia, no casco do navio …

        Por justiça, há que se reparar o diagnóstico apressado e reconhecer um gesto raro nessa relação muda dos lados trombetanos, quase inaudível, porém sinalizador de rumos, ainda que distante. Que o PDF não voe como a “andorinha do verão”, e venha acompanhado de mais ações efetivas para que não seja visto como a parábola do semeador na leitura de Pe. Vieira, jesuíta de marca maior, intérprete das mazelas humanas contaminadoras das boas ações dos governantes religiosos e seculares.

        Lá se discute a razão das árvores não produzirem os frutos esperados, posto que lançadas sementes na boa terra de nada se tem garantido os frutos; ou da inabilidade dos semeadores que deitaram-nas sobre os espinhos, em solo infértil etc. . Aqui, ainda se buscam as hábeis vozes para comandar os semeadores, talvez as boas sementes para o solo adequado, ou mesmo a boa vontade e responsabilidade das lideranças. É humana a escolha que encerra o futuro da região e arredores, mas técnica e planificada devem ser suas bases em cada núcleo, com reuniões mensais de agenda positiva para tratar as questões de lado a lado.

        Não se duvide da técnica! Ela sempre é mensurável nos resultados e, portanto, aferível e pode-se quase sempre mudá-la. A questão vai para os homens-semeadores, os homens-solo, os homens-espinhos, toda a raça com suas diversidades… Nestas áreas é que devem se ajustar os focos sociais das ações do combate à fome e ao desemprego, criando os mutirões empresariais, as ligas de trabalhadores cotizados para dar gêneros alimentícios todo mês aos seus irmãos carentes aí mesmo da região.

Também política é a ação de informação via educação; do conhecimento via cidadão que age no seu espaço social agrupando afinidades, coincidindo e convergindo intenções de fazer. Nessas atitudes está o fatal fio vermelho para ser cortado pelo alicate da cidadania, livrando nossas gentes da grande explosão.

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