O avanço do capim nas roças de mandioca

Maio 20, 2023 0 Por admin

        No inicio da semana estivemos visitando a região do planalto, para saber mais sobre o que aconteceu por lá após a chamada imigração nordestina para aquela florescente região agrícola e para nossa enorme surpresa, deparamo-nos com uma desertificação de gente e muita presença de pastos, restos de castanhais secos agonizantes, campos cercados entremeados de capoeira e muito poucas roças de mandioca.

       Na verdade, a planta base da farinha só visualizamos em alguns roçados às margens dos lagos e rios das regiões do Castanho e Salgado, Cuminá. Por essa razão, vale a pena, especular o que aconteceu após a chegada de mais de cem famílias nordestinas na década de 80 para o planalto, na estrada do BEC, em Oriximiná, como resultado de uma estratégia de levar pessoas sem terras com saberes da agricultura para uma região de vastas terras e pouca gente, então um quase nada de plantação agrícola nessa região Trombetina da Amazônia.

      Nos anos que findaram o século XX, os resultados da maneira de trabalhar a terra por esses imigrantes não demoraram a aparecer nas feiras e mercados da cidade, trazidos pelos caminhões da prefeitura, havia muitas sacas de arroz, feijão, milho, farinha e até cacau.

      Tobias da Silva, morador do km 9, da estrada BR 163 , apelidada “estrada do BEC”, diz que “a nossa produção era muito boa, a de arroz mantinha uma descascadeira funcionando aqui em casa, a gente produzia o arroz integral…Até café e cacau essa gente do nordeste plantou aqui em Oriximiná”. Quanta memória aliada a um saudosismo produtivo presente nesse depoimento do cearense de Baturité.

       Saberes de um povo que dominava a técnica da plantação que se perderam ao longo das décadas passadas, mais pela falta de um planejamento setorial dos órgãos afetos à atividade agrícola do que pela presença do homem na labuta da terra e suas fainas diárias, tudo isso muito antes dos programas de apoio ao homem do campo que estão disponíveis hoje em dia , como energia elétrica, internet e linhas regulares de transportes tanto para os alunos no trecho casa-escola-casa como no escoamento da produção.

       O que se ouve por lá para justificar o grande desestímulo aos imigrantes para continuarem na agricultura foi a cooptação dos agricultores para integrar “as sociedades com gado” de alguns prefeitos anteriores, momento em que a política do toma lá dá cá o voto, se materializou na retenção do capital do sócio proponente, sob a gaiata alegação de que os semoventes foram obtidos na origem por desvio de verbas públicas.                 

        Assim, poderia ser validada a dicção moral do ladravaz com perdão centenário, dito de outra forma na região para censurar os amigos do alheio, no caso, da verba pública malversada.

        Pior do que o crime contra a administração pública foi o desserviço prestado por essas gentes despreparadas, afetando gravemente o os braços disponíveis para a agricultura, atividade econômica fundamental para desenvolvimento e manutenção das famílias no campo, sustentáculo de qualquer célula na sociedade civil.

       A prova maior de que uma roça de mandioca ainda é mais viável economicamente para o desenvolvimento das famílias veio da declaração da dona Leotina Souza, que “semana passada nós levamos 120 sacas de farinha para a feira do Produtor… com essa roça, já pagamos a escola do nosso filho e compramos três rabetas…”, comemorando a promessa da atual administração que vai garantir a mecanização do processo do fabrico da farinha de mandioca.

         O capim ainda avança na Estrada do BEC, mas tem os dias contados se vingar a atual política do prefeito Fonseca, de apoio às famílias que se dedicam à agricultura, até porque, historicamente as populações das vilas do interior de Oriximiná estão aprendendo na pele, que o gado esvazia o campo quando beneficia o proprietário que na maioria das vezes fica na cidade, fator maior do grande êxodo rural, enquanto a agricultura fixa as pessoas ao sagrada solo que abriga e protege para o resto das suas abençoadas vidas.

         Por mais roças de mandioca no município de Oriximiná!