MERCOTROM – Integrar para não ver navio passar

O espírito irrequieto dos Konduris sopra o vento hamelletiano para por em xeque a estratégia política de Oriximiná e seus arredores, na egoística e suicida política de desenvolvimento isolado, ignorando a vizinhança, quase sempre ofuscada pelos efêmeros recursos de um subsolo que se esgota.

A região do Trombetas sustenta com suas entranhas a 4ª maior empresa paraense que desenvolve suas atividades em Porto Trombetas de costas para seus pacatos hospedeiros, que não conseguem fechar contratos comerciais regulares, porque diante de seu pequeno balcão, nem se habilitam no emaranhado de exigências nas licitações.

Com uma gestão otimizada para o lucro, a Mineração Rio do Norte – MRN, não pode cuidar da pobreza que atraiu no passado e fomenta no presente, posto que de somenos importância nas sua gestão e visão empresarial, dando-se ao luxo de enterrar, literalmente, recursos florestais da ordem de R$ 80mil mensais, retirados no processo de decapagem florestal da ordem de 20 hectares por mês. Tudo isso porque seu principal negócio é extrair e processar a bauxita, e a floresta está lá atrapalhando.

Daí porque, não há muita cerimônia em fazer desaparecer como adubo a grande obra da natureza que é uma árvore.

De Juruti a Monte Alegre, pelo menos, há um arco de pobreza e miséria estendido pela ineficiência de fazer a MRN praticar critérios de cidadania e responsabilidade pública para com a vizinhança, com a flecha da insegurança no futuro apontada para o desastre que aconteceu na região aurífera do Tapajós, poucos anos atrás, e no buraco lunar que ficou no Amapá, poucas décadas passadas.

Limitados por fatores técnicos de concorrência empresarial, observa-se a inexistência de nenhuma empresa desses oito municípios vizinhos no fornecimento regular de quaisquer que sejam os produtos, até mesmo do setor primário. Há sempre o critério da continuidade do fornecimento que se esgota na capacidade de se auto-organizar os empresariado, as lideranças políticas etc. . .

Assim, fadados às migalhas dos repasses tributários, nada há mais para fomentar o investimento regional, além das míseras participações tributárias, e outras não menos ínfimas verbas de projetos especiais do governo estadual. Não há políticas públicas definidas para a área que contemplem a continuação das atividades produtivas, talvez porque não haveria representatividade parlamentar eficiente para tanto; Talvez porque não haveria voz suficiente para gritar o grito da região, que está quase acostumada a ver o navio passar, seja em Juruti, seja em Oriximiná, seja em Óbidos, Curuá ou Monte Alegre…Eis que nem todas as folhas da florestas foram queimadas…. há que renascer sempre a necessidade como mãe das invenções.

Nesse sentido, Oriximiná, ora a base principal das receitas excedentes dos impostos, poderia liderar uma gestão empresarial, via poder público, para que se organize, passo a passo, um grande mercado na área de influência da MRN. Algo como o Mercado Comum para o Trombetas – MERCOTROM, no sentido de se criar protocolos e gestão empresarial para exigir uma negociação em bloco com a MRN com vistas a capacitação das empresas de cada município de acordo com cada vocação de produção que tiver.

O diferencial financeiro excedente de Oriximiná poderia financiar tal agrupamento de interesses comerciais que apoiados pelos órgãos de capacitação como SEBRAE e Associações Comerciais, motivassem os empresários desses municípios a participarem com vigor na tentativa de absorver, pelo menos 10% das centenas de milhões de dólares que estão sendo investidos nos próximos dois anos.

Para fazer é só começar…

(artigo do advogado João Bosco Almeida, publicado na revista virtual www.belemdopara.com.br  em 04.12.2000)

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