O grão rebelde

Caco Konduri

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A máquina faz a sangria,

Morde a terra fria,

Revira minério enterrado,

Selvagem ferrado, cotado.

Na esteira deita o rebelde

Resiste aos torrões, empedrado

Assiste aos trovões, tempestade.

Labuta lusa passada,

Faina yankee descapada.

Retorna à luz do sol,

O sangue, a força da terra.

Na esteira rola o rebelde

Na brita, moagem da dor

No céu, aragem, calor…

Rola, leva o quebrado

No ferro, esticado, redondo

Rola nos trilhos, o barulho,

Na terra, plantando, repondo.

Cirúrgica costura da mata,

Nos vagões olham pra trás

Nos lagos, a imagem, o espelho

Os lusos não conseguiram,

As máquinas já extraíram.

Antes, matavam, enterravam,

Agora, desmatam, desterram.

Na última forma do rito,

Levam, lavam as entranhas.

Destroem a força do mito,

Com água, lama tamanha

Secam, retiram a alma

Pecam com toda calma

Atolam regaços sagrados

Imolam espaços legados

Ao navio, subida final,

Última vista parcial

No topo, um ínfimo grão

Rebelde, resvala no chão

Insiste retroceder, quer ver

O verde, a lama, o rio

A esteira impede o gesto

Sacode, treme o resto

Na reta fatal, reconduz

Ao porão escuro, sem luz

Molécula selvagem moída

O grão da terra querida

Desaba na história morrida!

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